quinta-feira, julho 31, 2008

Coisas de Hell, o livro da Lolita Pille

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A felicidade é uma ilusão de ótica, dois espelhos que refletem entre si a mesma imagem ao infinito. Nem tente buscar a imagem original, não existe nenhuma. Não diga que a felicidade é efêmera. O sentimento que se sente e é tomado como felicidade quando se está apaixonado, quando se teve sucesso em alguma coisa, é uma liberdade condicional antes de conhecer a pena: o ser amado não se parece com nada, o que você conseguiu não serve para nada. Isso não a faz infeliz, mas consciente. A felicidade não acaba, ela apenas se retifica.
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Nós inventamos a luz para negar a escuridão. Colocamos as estrelas no céu, plantamos postes a cada dois metros nas ruas. E lâmpadas dentro de nossas casas. Apague as estrelas e contemple o céu. O que você vê? Nada. Você está diante do infinito que o seu espírito limitado é incapaz de conceber, de forma que você nada mais enxerga. E isso o angustia. É angustiante estar diante do infinito. Fique calmo; os seus olhos sempre encontrarão estrelas obstruindo a trajetória deles e não irão mais longe. De forma que o vazio dissimulado por elas será ignorado por você. Apague a luz e arregale os olhos ao máximo. Você nada verá.
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Ele não responde, joga o casaco sobre meus ombros e me aperta nos seus braços. Ele me beija na testa. Uma lágrima rola na minha face, seguida de outra. Não consigo mais me segurar, é o excesso de emoções contraditórias que ferviam dentro de mim e que transborda sem que eu possa fazer alguma coisa. Vivi demais, cedo demais, e por demais solitária. Eu não mereço que cuidem de mim. Fico sem entender.
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Busco em vão em cada rosto uma fagulha de poesia, busco entusiasmo nos discursos, busco ideais, ou pelo menos idéias, mas as pessoas passam ao largo, elas andam apressadas, os olhos esvaziados por preocupações. Não posso fazer nada por elas. Não posso fazer nada por ninguém.
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Não tenho vontade de fazer nada, não sei o que fazer. Não quero dormir, não quero ficar acordada. Não tenho fome. Não quero ficar sozinha, não quero ver ninguém. Tenho a sensação de estar em 'sursis'. Estou apenas completamente esgotada.
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A humanidade sofre e eu sofro com ela.
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Enquanto houver um raio de sol na Avenue Montaigne, continuarei tendo vontade de acreditar na felicidade.

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