segunda-feira, maio 12, 2008

Paris França, por Gertrude Stein

"Claro que algumas vezes as pessoas descobrem seu próprio país como se fosse o outro,... mas em geral o outro país de que se precisa para ser livre é um país diferente, não aquele onde se nasceu."

"Os franceses são corteses, são assim naturalmente, jamais pensam numa inspeção de surpresa, sempre pensam em anunciá-la antecipadamente, de modo que tudo esteja preparado para ser inspecionado e de modo que ninguém tenha qualquer sentimento desagradável, e por que não, é sempre mais agradável ser cortês e como os franceses são inteiramente francos, não conseguem mentir, se você deixar qualquer encanador qualquer pessoa conversar por um tempo longo o suficiente, eles sempre contarão a verdade... Eles têm um senso de realidade tão íntegro que não podem realmente mentir, não conseguem mesmo por acaso não dizer os fatos como são, e assim podem ser tão corteses quanto desejarem em qualquer ocasião, porque a cortesia não interfere nos fatos, a cortesia é só outro fato."

Em 'Paris França', Gertrude Stein narra suas experiências na capital francesa durante os anos 1920, uma grande festa freqüentada por artistas geniais que revolucionariam todas as formas de arte. Carregado do estilo inconfundível (cubista) da autora, transposição literária do que Pablo Picasso, amigo da escritora, fazia nas telas. Ironicamente, o livro foi lançado em 1940, quando os nazistas já se aproximavam da capital francesa.

Um retrato (escrito) da vida, tendo Paris como pano de fundo... sua sociedade, seus caminhos, o temperamento de seus habitantes e mesmo reflexões que nada têm a ver com a cidade, apenas foram pautadas por ela. Lembranças pessoais... Um fluxo de consciência... Lembranças entrelaçadas na narrativa, criando novos padrões literários. Gertrude vai desenrolando seu encantamento por Paris e emendando uma idéia à outra, abandonando uma delas e a retomando lá na frente. Começa a falar, por exemplo, do apreço francês pela culinária e como o país adotou quitutes estrangeiros como símbolos nacionais (o croissant veio da Áustria, e as sobremesas requintadas vieram com a rainha Catarina de Médicis, que era de Florença). No decorrer dessas páginas, entre descrição de pratos e a informação que Luiz 15 sempre fazia o próprio café, Gertrude pincela o medo da guerra e o conflito escorrega silenciosamente para dentro das páginas enquanto Gertrude passeia pelo campo. Não só a guerra, mas a moda, o luxo, a simplicidade, a cultura. Esses pioneiros modernistas ousaram ao máximo a alegria de viver, mesmo sob a tensão da ruína batendo à porta.

Nenhum comentário: