quinta-feira, maio 29, 2008

A alma cigana

Nós, ciganos, temos uma só religião: a da liberdade. Em troca desta renunciamos à riqueza, ao poder, à ciência e à glória.
Vivemos cada dia como se fosse o último. Quando se morre, deixa-se tudo: um miserável carroção como um grande império. E nós cremos que nesse momento é muito melhor ser cigano do que ser rei.
Nós não pensamos na morte. Não a tememos – eis tudo.
O nosso segredo está no gozar em cada dia as pequenas coisas que a vida nos oferece e que os outros homens não sabem apreciar: uma manhã de sol, um banho na torrente, o contemplar de alguém que se ama. É difícil compreender estas coisas, eu sei.
Nasce-se cigano. Agrada-nos caminhar sob as estrelas.
Contam-se estranhas histórias sobre ciganos.
Diz-se que lemos nas estrelas e que possuímos o filtro do amor. As pessoas não acreditam nas coisas que não sabem explicar.
Nós, pelo contrário, não procuramos explicar as coisas em que acreditamos.
A nossa vida é uma vida simples, primitiva: basta-nos ter por teto, o céu, um fogo para nos aquecer e as nossas canções quando estamos tristes.
Vittorio Pasqualle Spatzo (poeta cigano)

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